O banco era severo. Quase não se percebia pelo lado de fora a suntuosidade do interior. Colunas grossas de mármore estendiam-se por vasto corredor que morria diante dos guichês de pagamento. Funcionários sorridentes, todos trajando impecáveis vestes acinzentadas sendo terno para homens e tailleurs para as mulheres. Os funcionários pareciam ter nascido para a função, graças à sua gentileza.
O piso de mármore remetia a desenhos estranhos. Tive a sensação de que simulavam labaredas devorando pessoas, casas, cidades inteiras, mas ao firmar melhor a visão, creio que fosse uma ilusão. Entre cada coluna havia uma mesa com um funcionário. Tudo brilhava de limpo e magnífico. As cores escuras, pardas, mas harmônicas. Quadros nas paredes remetiam a figuras interessantes envolvendo negócios, dinheiro, apostas em cavalos, caça a raposas, e eram enormes.
Um dos gerentes me receberia logo. Sentei-me em um sofá diante para a sua mesa com duas cadeiras logo à frente. Assim que chegou, veio direto a mim, sorridente. Levantei-me rapidamente segurando minha maleta executiva. Naquele momento o nó do meu colarinho parecia uma corda no pescoço do enforcado. Fez um movimento com as mãos, enquanto andava, para que me sentasse com ele. Muito agradável, aparentando 50 anos e cabelos lisos e grisalhos penteados para trás. Barba impecavelmente escanhoada. Exalava um odor agradável de brisa da manhã.
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Iniciamos uma conversa causal tipo: como vai você? Como está o trabalho?
Depois, foi direto:
- Então, veio pedir um empréstimo. – Nisso, abriu uma pasta que continha todos os dados do meu pedido anteriormente entregue.
- Sua ficha não é boa, filho. Não é boa mesmo, mas o nosso banco existe justamente para esses casos...
Realmente, sendo recém-casado, tendo uma esposa jovem e um bebê de 6 meses, as dívidas se acumularam. Tive que vender o carro e agora andava de ônibus. Precisava cobrir empréstimos com 2 agiotas e o banco parecia ser a única saída.
- Você não tem garantias, nem patrimônio... O que pode nos oferecer?
Nisso, seus olhos me fincaram e por um momento tive a impressão de que chispas vermelhas brotaram das suas pupilas.
- Que tal um dos rins?
- Não, não vai dar nem para uma parte. Precisamos de algo mais valioso, algo que valha a pena.
- Algum outro órgão?
- Creia-me: a maioria deles somente poderemos retirar quando você partir e creio que seja muito jovem... Não podemos esperar tanto, pois com o correr dos anos os juros sobem e o banco precisa sobreviver... Queremos algo mais substancial, que realmente lhe faça falta, que lhe cause dor, que infrinja à sua família um sentimento absoluto de perda. Isso sim nos alimenta e mantêm a estrutura viva.
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- Querem que mate alguém?
- Poderia ser, mas não poderia se alguém estranho, tem que ser alguém da sua família, alguém que você ame.
- E quem o Senhor sugere?
- Não podemos sugerir. A escolha tem que ser sua e nós aprovamos ou não.
- Mas é muito pelo que peço.
- Meu caro, dependendo do que escolher, o empréstimo já estará quitado e podemos lhe dar uma quantia absurda.
- O dinheiro será depositado em minha conta?
- Melhor, te faremos, durante a noite, ter uma idéia fabulosa que lhe renderá milhões. Algo como um novo invento ou um Site na Internet que renda milhões, como o Facebook, por exemplo.
Respirei fundo e ele me passou uma ficha em branco para que escrevesse um nome. Tremi e respirei fundo, mas estava disposto ao sucesso e nada me impediria. Escrevi depois de pensar por uns dois minutos. Ele riu, quase gargalhou:
- Meu filho, em troca do que nos oferece você será um novo Bill Gates. Ficará sozinho, mas poderá comprar o que quiser ou quem quiser. Lembre-se de quanto mais rápido agir, mais rápido ficará enojado de rico.
Sai do banco pisando firme e agora tive a impressão de que o piso realmente refletia labaredas tragando almas e, logo ao fim, em uma delas, vi meu próprio rosto deformando-se nas chamas. A impressão não me desencorajou e creio que o sucesso valeria a pena. Em poucas semanas minha família choraria de dor e angústia em um triste velório duplo. Eu estaria viúvo e só, mas em pouco o mundo teria mais um bilionário a gerar empregos, renda, luxo e prosperidade. Afinal, não é isso o que verdadeiramente importa?
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