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A Data da Morte!
A Data da Morte!

Belas ruas pelo mundo - Sisters in Travel

 

Naquela cidadela...


Todos eram bruxos. As casas eram tortas, as ruas, de formato irregular, cobertas por pedras acinzentadas pareciam não ir ou vir de lugar algum. Um bêbado veria mais lógica que um cidadão comum. Porém, diziam, que era apenas fruto de um feitiço a confundir visitantes indesejados. Uma magia do povo da cidade para espantar estranhos.

E sabiam os daquele povo, assim que aprendiam a falar e a entender os outros, qual seria a data da sua morte. E não seria isso algo de dar calafrios? Porém, quando se nasce em uma cultura se adapta a ela. E não há os povos, que desde cedo, consomem insetos ou animais exóticos? Os hábitos de um povo só são estranhos a outro povo, porém, são muito comuns ao da própria região. Afinal, quem nascesse no meio de zumbis ou vampiros não os veria como algo natural ao seu mundo?

E não havia escapatória, nenhuma magia, nenhum feitiço, nenhum artifício que fizesse mudar o vaticínio de se saber a data da chegada daquele anjo negro, com asas colossais, que trazia a uma mão uma foice e na outra uma ampulheta. E não possuía apenas dois braços. Os que o viam diziam sair das suas costas quantos braços e mãos fossem precisos e possíveis. A morte não tinha apreço, não negociava, apenas apontava e levava. Ao contrário do que prega a literatura dos homens e até mesmo os cordéis, ninguém falava com a morte. Célere, no lugar do rosto, sob um capuz, havia apenas uma profunda escuridão sem olhos, sem nada que lembrasse a humanidade.


E quem disse que aquilo de saber da morte afligia o povo?


Assim com as sementes se acostumam ao rastejo e as aves ao voo as pessoas dali se acostumavam ao convívio, diuturno, com o derradeiro dia e não é que havia festejos para cada um no dia anterior!


Era com um júbilo, uma consagração. O término da luta, como diziam, e se felicitavam.
Até que um dia um homem não menos estranho que as pessoas daquele exótico lugar chegou. E em pouco ficou sabendo do costume e da faculdade estranha que todos carregavam.


Dizia-se um Mago de outras paragens e promoveu alguns truques que pouco impressionavam um povo acostumado à maior das magias: conviver feliz com a vida sabendo o dia do término dessa.


O que poderia assombrar gente como aquela?

E o forasteiro bem que tentou algum dinheiro, ou colher alguma vantagem, mas se decepcionava, pois não lhe davam o menor crédito.

 

Certo dia quando gostou das colinas, das águas cristalinas, resolveu deitar de lado sua mania de Mago e ergueu uma cabana. Depois, viu nos olhos claros de uma linda morena o disparar do seu coração. E se uniram e tiveram um filho muito bonito. Não sabia o povo porque o feitiço de ver as ruas tortas não o afligiam. Talvez, pensassem, fosse ele um escolhido para viver ali e o deixaram ficar. E ficou para criar o filho junto à amada.

E o menino cresceu meio bruxo e meio mago.


E não foi que quando aprender a falar, também soube do seu dia e ainda do dia do seu pai?
E que medo dominou o mago.


Não havia mais paz, sossego, embora a data fosse distante, muito distante. E tentou, em seu desespero, contra a própria vida, mas tudo falhava. A navalha não cortava, a corda arrebentava e, no auge ao saltar de um terrível precipício veio uma rajada de vento elevando-o de volta e lançando-o sobre a borda.

O povo sabia do seu sofrimento. Não tinha o costume dos demais. Era um estranho acolhido, mas não aceitava o fim como os demais, não lhe era natural. Saber da data lhe fora como atar uma corda ao pescoço que a si mesma apertava todos os dias...


Da morte não se escapa nem no antes nem do depois! Era a lei daquela gente.

E eis que se conformou e viveu esperando o dia da morte ao invés de viver esperando a vida eterna!

E, se um dia, o amigo viajar e encontrar uma aprazível cidadela nas montanhas aonde as ruas sejam muito tortas e que pareçam mudar, como se uma vertigem o abarcasse e o povo te olhar de soslaio não havendo igrejas, nem centros de oração, caminhando todos como se vivessem no século que se queimavam bruxas, corra dali. Acelere seu veículo para a mais próxima cidadela e nunca mais diga o seu endereço. Isso não te evitará de encarar a sua hora, quando essa, enfim chegar, mas te poupará do sofrimento antecipado de saber do seu momento...

 

Está escrito.

 

Jurandir Araguaia.

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